Quando visitei a exposição “Geografia afetiva”, da artista plástica Dayse Resende, logo me vieram à mente as palavras de Carmélia Maria de Souza, a cronista do povo, que publicou em um jornal de junho de 1967: “Você, aí, precisa aprender a olhar com mais ternura, ou por outra, com alguma ternura e um pouco de amor dentro dos olhos, sempre que olhar para a nossa cidade”. É assim, com amor nos olhos, e ternura, que Dayse Resende contempla Vitória. Acredito que é assim, também, que os moradores da Ilha a veem. Talvez por isso essa exposição, esteja tocado, de forma especial, a sensibilidade de quem a visita.
Renata Bomfim e a Artista Dayse Resende |
Não é de hoje que a ilha inspira artistas plásticos, poetas, músicos, dançarinos. Ítalo Campos escreveu: “ A ilha, provisória vida./ Vida, ilha provisória”, apontando para a mutabilidade da cidade e de nós mesmos, seus moradores, ─ territórios de sonhos e de ansiedades. Fernando Achiamé poetisou Vitória, pois, “Igual ao Cosmos, a ilha está em ruínas:/ lavas petrificadas, vulcões extintos, poucas chuvas ácidas, sem geleiras, gêiseres, furacões”. Sim, como destacaram os poetas, Vitória está aí, e seus monumentos naturais não nos deixam esquecer dessa inscrição cósmica universal.
Abertura da exposição "Geografia afetiva" |
Dayse Resende se declara uma “apaixonada por pedras”. Nessa exposição a Baía de Vitoria, ─ porto aberto para o mundo─, o Mestre Álvaro, o Morro do Moreno, o Moxuara, o Penedo, a Pedra da Cebola, ganham destaque: “Vitoria para mim ganha sentido nas relações que se estabelecem entre esses grandes monumentos naturais, as construções urbanísticas e as pessoas”, afirmou a artista.
Segundo Dayse, essa exposição é, também, um alerta para as intervenções que não respeitam o desenho natural da cidade, e que interferem de forma indiscriminada em um patrimônio que é de todos, criando ruídos e gerando desequilíbrios: “A ocupação desordenada, a perda dessa vista é um prejuízo coletivo. A gente tem que se preocupar com isso. Os espigões, frente aos monumentos naturais precisam ser repensados."
Segundo Dayse, essa exposição é, também, um alerta para as intervenções que não respeitam o desenho natural da cidade, e que interferem de forma indiscriminada em um patrimônio que é de todos, criando ruídos e gerando desequilíbrios: “A ocupação desordenada, a perda dessa vista é um prejuízo coletivo. A gente tem que se preocupar com isso. Os espigões, frente aos monumentos naturais precisam ser repensados."
Geografia afetiva é uma exposição que celebra a relação entre Vitória e as pessoas, A artista destaca a conectividade como um valor importante na poética das obras, e fala um pouco sobre o seu processo criador: “Nós nos ligamos à Cariacica, à Serra e à Vila Velha; Vitória é uma cidade metropolitana. Essa exposição foi se construindo, ela começou com o olhar para essa paisagem, depois veio o mapeamento da cidade, e terminou na união disso tudo. O trabalho foi crescendo com as escolhas das tintas, das cores. Utilizei uma cartela de cores específica”.
A artista no seu Ateliê |
Penedo de Vitória |
Mestre Alvaro, Município da Serra |
As obras em azul nos remetem para a influência da colonização portuguesa, ─ da azulejaria─, ressaltando o caráter rico e plural do povo capixaba, fruto da miscigenação com outros povos. Dayse escolheu um ponto de Vitória para contemplar o Convento da Penha, e foi a partir daí que pintou: “Me agrada pensar plasticamente essa paisagem”. O Convento da Penha faz parte da paisagem da ilha. Podemos observar a padroeira do Espírito Santo, desde o alto do morro (no continente), abençoando quem passa pela Reta da Penha, mirada que nos aproxima do sagrado.
Vitória está dentro e fora do tempo, tanto que a diva da literatura capixaba, Bernadete Lyra, na obra Memória das ruínas de Creta, soltou o Minotauro na Ilha, “onde à terra faltava consciência, ao ar luz e brilho, ao mar fluidez, ali a única verdade era a face da Ilha”, mais recentemente, e escritora lançou A Capitoa, obra que desvela uma ilha cuidada por mulher, Dona Luisa Grimaldi, fidalga eborense que foi esposa do donatário Vasco Fernandes Coutinho e primeira dirigente de uma capitania no Brasil.
Muito há que falar sobre Vitória, de suas belezas e singularidades. O saudoso escritor e radialista Marien Calixte criou o slogan “viver é ver Vitória”, a nossa Carmélia Maria de Souza criou a frase “Vitória é uma delícia”. A Ilha interliga a todos nós (seja por suas pontes, por sua história, pelo amor...), talvez por isso a Carmélia Maria tenha alertado ao leitor: “Não sei se você sabe, mas ainda é tempo de termos o domingo que não tivemos, de cantar a canção que não cantamos, de contemplar a estrela sentados numa varanda de frente para o mar”. O mar é um companheiro para quem vive na Ilha, e foi inspirada em Vitória que escrevi os seguintes versos: “Esta Ilha tem "um quê"/de Ítaca, Olimpo, Pasárgada.../nela, eu sou eu!/nela me dissolvo.../ Nela florescem, por toda parte,/ múltiplos objetos de amor:/ rosas fascinantes e assombrosas...”. Espero que visitem a exposição e viagem por esse mar, por esse chão, descobrindo uma Vitória outra.
*Renata Bomfim nasceu em Vitória/ES (21/11/1972). Doutora em letras (UFES), poeta, ensaísta, artista plásticas (UFES), a escritora atua como arteterapeuta no Centro de Referência para Pessoas em Dependência Química (Rede Abraço), do Governo do Estado do Espírito Santo e no ESTARTE (Espaço Terapêutico Arte). Autora dos blogs Letra e fel http://www.letraefel.com/) e Ser Sustentável (www.sersustentavel.org)
* Publicado originalmente no blog letra e fel.
Contatos com a artista Dayse Resende : 027. 999622130
Fotos da Exposição Geografia Afetiva Aqui
* Publicado originalmente no blog letra e fel.
Contatos com a artista Dayse Resende : 027. 999622130
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