FORTALEZA E RESILIÊNCIA: Pinturas de Sandra Resende

O texto FORTALEZA E RESILIÊNCIA foi publicado originalmente no Caderno Pensar, do Jornal A Gazeta em 19 de setembro de 2015.
Exposição Nova Riqueza, no Memorial da Paz, Cruz do Papa, texto de Michaela Blanc​, 

FORTALEZA E RESILIÊNCIA

A resiliência ambiental determina a predisposição de um ecossistema recuperar seu equilíbrio após modificações promovidas por distúrbios geoclimatológicos ou de influência humana.

    por Michaela Blanc*

Em sua série intitulada Nova Riqueza, Sandra Resende apresenta ao espectador uma visão poética acerca do acordo, invisível, firmado entre a força humana e a força da natureza numa região de Garimpo.

A montagem desta exposição lança mão de um comparativo entre a série de pinturas da artista a uma Jazida Mineral, traduzindo o espaço, em um reservatório farto de sensibilidade e igualmente abundante em valor mercadológico para dar conta de sua investigação acerca dos assuntos da mineração. Aqui, cada tela se transforma em registro de um tempo dos percursos revisitados pela artista, sejam eles na praia e nas calçadas de Jardim Camburi, ou até mesmo os lugares escondidos dentro de sua própria memória afetiva. Pois ao propor esse conjunto, a artista produziu monumentos da recordação de um imaginário coletivo.

Conceitualmente, as telas exibidas neste espaço estão ligadas as questões acerca do ao universo da Pintura, do mercado da arte, da beleza gratuita cedida pela Natureza e a capacidade de restabelecimento destes sistemas, pois em todas estas instâncias há a capacidade de reinvenção. Não se trata apenas da corrente abstrata da Pintura, Sandra constrói, através do gesto, relações plásticas e conceituais com outras personagens da história da arte brasileira. Nomes da pintura contemporânea como Antonio Dias e José Bechara podem traçar um elo visual e conceitual com seu trabalho.

Por meio da mescla de materiais, usando óxidos, tintas e pigmentos, nos direciona para o campo das sensações onde somos envolvidos através da experiência do Olhar. Suscita uma liberdade do fazer pictórico e proporciona a fatura de um acidente poético, assim como a ocorrência imprevisível dos acidentes geológicos que resultam nas jazidas e depósitos minerais. De modo a revelar o acaso obtido as através de sua trajetória gestual, cada pintura da Nova Riqueza sustenta uma potência particular e seu desmembramento não infere na força do conjunto, sinal da legitimidade na autoria da artista.

Desconsiderando limites da arte, a expressão plástica se tornou atividade compulsória usando o trabalho mais como caminho do que finalidade. Valorizar as causas pelas quais acredita na força do trabalho artístico em detrimento das consequências acidentais que surgem ao finalizar cada tela.

As manchas particulares entrevistas no espaço pictórico são signos previamente conhecidos do processo orgânico de pesquisa da artista. A partir da variação tonal escolhida, nos trabalhos contidos em Nova Riqueza, Sandra interpela camadas como um garimpeiro que ao manusear a lama descobre nos níveis mais profundos das cavas o ouro depositado e procurado como o representante da Beleza natural. Por essa via, é possível constatar o lugar onde a artista quer se colocar e este seria o de uma operária a serviço da arte, como foram todos aqueles homens a serviço da Beleza, como ocorreu principalmente nas regiões de Paracatu-MG e Curionópolis-PA, onde se localiza Serra Pelada - maior garimpo a céu aberto do mundo, por exemplo. Trata-se de ter esperança. Esperança na Arte e esperança na Vida.

Entretanto, Nova Riqueza vem indagar o quanto a ação do homem interferiu naquele meio e apesar disso a própria natureza tem se encarregado de modificar a paisagem ressignificando-a. Preocupada com a condição de coexistência, entre nós e a paisagem, Sandra Resende delibera nesta mostra a síntese: Você já encontrou Beleza no seu trajeto hoje?

A artista exerce papel fundamental na comunicação lançada entre corpo, espaço e obra numa rede instituída através de um encantamento repentino sobre a natureza. Segundo ela afirma, “Para encontrar Beleza, basta Olhar. Porque a Beleza já está!” O espaço virtual das telas mistura vestígios e pulsações de uma movimentação contínua que nos transporta para um fluxo. Como um rio ou nuvem Nova Riqueza pergunta com firmeza para onde está correndo seu rio.  



*Michaela Blanc é historiadora de arte e curadora independente

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