Não, não são rosas. Não representam ramos, nem buquês, ao contrário do que pensamos à primeira vista.
Por mais que as formas feitas de linhas emaranhadas pareçam pétalas sinuosas, cheia de voltas, não foi esta a idéia da artista.
Dayse Egg Resende imaginava criar, em suas composições, núcleos parecidos com novelos, interligados por fios, numa trama mais ampla: "Fios de nossas relações humanas, fios narrativos, fios sonoros, fios que se entrelaçam, fios que se emaranham, fios que dão nós, fios que se rompem, fios contínuos, conexões, o fio da vida de cada um e os fios da memória coletiva...", explicou ela.
Tanto quanto a de rosas, a idéia de fios é fértil: o Dicionário de Símbolos (1) menciona o fio de prumo, o símbolo da verticalidade; o eixo do mundo, que faz o planeta girar. Os Upanixades, escrituras que discutem a filosofia hindu, falam de um fio que liga este mundo ao além e todos os seres entre si. O tempo, a vida e o destino muitas vezes são relacionados a um fio.
Dayse contou que esta idéia de fios evoluiu para uma marca de suas pinturas: o traço irregular, quase ao acaso; a cor lavada, aquarelada, as sobreposições que sugerem trabalhos abstratos e muitas manchas produzidas por uma infinidade de materiais que vão de guache a betume, com cores igualmente variadas.
A série é pura experimentação, define a artista. Em fios, há até lugar para o não-desenho e para a falta de cor. E o resultado impressiona: é limpo, leve, fluido e, por que não dizer, tão arrebatador quanto um buquê de rosas.
Andrea Curri
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