A LITERATURA ENTRE O LIVRO E O OBJETO
Wilson Coêlho



A princípio, trata-se de uma discussão sobre a categoria do objeto do livro, seu uso e apropriação pela arte, por meio da qual se busca compreender as fronteiras do livro-objeto e da literatura. Onde termina um e onde começa o outro? De certa forma, toda pergunta inteligente engendra novas perguntas, considerando que todas as respostas são provisórias e instigam novas investigações, tanto na tentativa de sustentar as tais respostas quanto na possibilidade de entender que as mesmas não passam de acordos para significar o mundo. Assim, estamos diante da tríade livro-objeto-literatura. E para quaisquer que sejam as respostas, devemos dar um passo atrás e perguntarmos: o que é um livro? O que é um objeto? O que é a literatura? 

Primeiramente, sobre o livro, sem entrar no mérito dos e-books, dos audiolivros ou da definição da UNESCO de que o mesmo deve conter no mínimo 50 páginas, podemos afirmar que a palavra “livro”, proveniente do latim liber, trata-se de um termo relacionado com a cortiça da árvore. Assim, simplificando, o livro é um conjunto de folhas de papel ou de qualquer outro material semelhante que, organizadas e encadernadas, formam um volume. 

Depois, sobre o objeto, sem entrar no seu caráter abstrato como possibilidade de representação de uma ideia, aqui convém compreendermos o objeto como uma coisa material que pode ser percebida pelos sentidos, mesmo que para a fenomenologia coisa e objetivo não são sinônimos, considerando que a primeira é o absoluto ou aquilo que não sabemos e, a segunda, Ob significa em latim, diante de, em frente de; e a palavra jectum, lançado ou posto. Temos então ob jectum, posto ou lançado diante de. Podemos pensar o objeto como aquilo que nos é apresentado na percepção exterior como um caráter fixo e estável, independente do ponto de vista, dos desejos ou das opiniões do sujeito. 

A literatura, por sua vez, entendida como uma manifestação artística, é capaz de recriar a realidade a partir da visão de um determinado autor através de seus sentimentos e suas técnicas narrativas. Entre outros elementos que estabelecem a diferença entre a literatura e as outras manifestações está a sua matéria-prima: a palavra. Essa palavra que utilizada como uma pá que lavra o terreno virgem da página como um arado ferindo a terra e criando sentido de mundo numa infinidade de mundos. Porém, cabe uma advertência: não se pode pensar ingênua ou reduzidamente que literatura é um “texto” publicado em um “livro”, considerando que nem todo texto e nem todo livro publicado são de caráter literário. Um livro de ponto não é literatura. Um livro de ouro não é literatura. Um livro científico não é literatura. Um livro fechado, mesmo de contos, de poesia ou um romance, não é literatura. A literatura é um ato de revelação no momento em que se lê.

Na verdade, a ideia do livro-objeto é um tema em aberto e, muitas vezes, um abismo. Há um livro, intitulado SKYLINE, com um poema de Fernando Arrabal e desenho original de Oscar Niemeyer. Escrito em espanhol e traduzido por mim ao português, o livro é bilíngue, tem 65 páginas, num formato grande, papel especial e uma capa dura com um esboço da linha do horizonte de Cuenca, cidade espanhola, além de ser sustentado por um aparado de acrílico para que seja exposto. Além da tradução, também assino o posfácio. O livro fazendo parte da coleção de bibliofilia Menú, criada pelo editor Juan Carlos Valera, tem apenas 15 exemplares numerados. Os mesmos são invendáveis e todos têm assinaturas originais: a de Niemeyer, de Arrabal e a minha. Pois bem, o poeta, pintor y crítico Sergio Lima, em colaboração com Camila Fialho, criou na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP, de 16 a 19 de outubro de 2013, um evento sobre o livro-objeto e suas concomitâncias surrealistas, denominado LIVRO OBJETO E O NÃO-LIVRO. No dia 17, que tinha a ver com o SKYLINE, cuja discussão seguida de debate foi sobre o Livro-Objeto na atualidade, estivemos eu, o editor Juan Carlos Valera, Perfecto Quadrado Férnandez, Antonio Gonçalves e Miguel de Carvalho.

Também, aos 23 de junho de 2016, organizei na Biblioteca Estadual do Espírito Santo - BPES, com a participação do pintor e poeta francês Gilbert Chaudanne, um debate sobre o livro-objeto. Na ocasião, Chaudanne abordou o tema a partir de sua experiência na produção de livros artesanais. No meu caso, optei pela exposição e explanação sobre minha participação na obra SKYLINE. 

Geografia Afetiva é fruto de um jogo. A artista Dayse Resende propõe um mapeamento imagético a partir do olhar devotado sobre a formação natural de Vitória e suas cercanias. Ao reunir a coletânea de 17 trabalhos lado a lado em um determinado espaço o espectador pode investigar qual jogo seria esse onde a cartografia urbana capixaba recebe os azuis transpostos ora de uma pintura de Matisse, ora de uma das Antropometrias de Yves Klein.




 As imagens denunciadas pela artista passeiam pelas montanhas do Estado do Espírito Santo como as localidades da Pedra Azul, da região de Ibiraçu e das cachoeiras do Caparaó mescladas as construções históricas do Convento da Penha e do Santuário da Nossa Senhora da Saúde, por exemplo. Um autêntico mapa de afetos traduzido pelo desejo e exercício cotidiano do Olhar. A busca plástica de Dayse cria um acordo entre a mão humana, as teorias da arte e o meio de inserção social. Como se as telas de Geografia Afetiva criassem uma caixa de diálogo entre quem percorre os trajetos da cidade, revendo o percurso impresso sob forma de pintura e após esse momento, partilha e situa-se ali.


A (des)construção desse caminho sensível é capaz de fazer o Olhar do Outro relacionar as diferentes trocas possíveis em um território. Afinal, ocupamos as Cidades e somos a força motriz que as estimula. Por essas pinturas, secretamente estão emparelhadas a estética, a política, a economia reveladas numa geografia cultural do patrimônio de Vitória. Uma pintura que põe em contato direto a sociedade e o espaço que a sustenta.


Yves Klein
Série Antropometria, década de 1960.
Dimensões variáveis
  1. Fotografia: registro de performance.
  2. Impressão corporal sobre lona.

A filósofa e teórica da arte contemporânea Anne Cauquelin em sua publicação A invenção da paisagem anteviu o que Dayse propõe em sua série. Uma reflexão atual sobre convergências e diálogos entre homem x meio somado a noção elaborada acerca da paisagem. Geografia Afetiva pode ser um sintoma da conjectura que se forma quando surge o arrebatamento diante da potência e exuberância de um recorte natural capturado pela retina e a necessidade de apossar-se.


HENRI MATISSE

THE BLUE WINDOW

130 x 90 cm.
Museum of Modern Art, New York
1911


Criou-se urgência no enxergar, não é diferente pra você e não foi pra Dayse Resende. Questão a qual aloca a artista no lugar humano. Humano, porém com o poder aglutinador assegurado pela arte contemporânea de que é possível tratar mais uma vez de um assunto há tempos cuidado. Seja por qual linguagem for, em Geografia Afetiva advém a certeza de que a arte se fez na caminhada.

A designer de joias reinaugura sua loja pop up com coquetel na Praia do Canto nesta quinta-feira, dia 8.

Ao notar que tinha dificuldade para presentear pessoas queridas, a designer de joias Emar Batalha resolveu se aventurar no mundo da moda, decoração e outros mimos, expandindo sua expertise criativa para além do ramo joalheiro. Foi assim que nasceu a pop up EB Store, um projeto com direção da designer capixaba em parceria com outras personalidades da arte, moda e decoração, para desenvolver, a quatro mãos, artigos exclusivos nessas áreas. Para lançar a segunda coleção e reinaugurar sua loja temporária, Emar promove coquetel nesta quinta-feira, dia 8, em espaço anexo à sua loja de joias na rua Celso Calmon, na Praia do Canto.

Na primeira coleção, Emar desenvolveu caftans de seda, acessórios e itens de decoração inspirados na Capadócia, fato que garantiu ares fun, muitas cores e texturas aos produtos. Já nesta segunda coleção intitulada ‘Pássaros’, Emar se uniu a personalidades como Vanda Jacintho, Raquel Neves e Francesca Giobbi para criar peças mais maduras e elegantes.

O resultado são peças em couro pintadas à mão, caftans de seda e panneauxs com estampas exclusivas e acessórios em acrílico com detalhes em prata, com uma pegada mais clássica, elegante e cheia de estilo.