Geografia Afetiva é fruto de um jogo. A artista Dayse Resende propõe um mapeamento imagético a partir do olhar devotado sobre a formação natural de Vitória e suas cercanias. Ao reunir a coletânea de 17 trabalhos lado a lado em um determinado espaço o espectador pode investigar qual jogo seria esse onde a cartografia urbana capixaba recebe os azuis transpostos ora de uma pintura de Matisse, ora de uma das Antropometrias de Yves Klein.
As imagens denunciadas pela artista passeiam pelas montanhas do Estado do Espírito Santo como as localidades da Pedra Azul, da região de Ibiraçu e das cachoeiras do Caparaó mescladas as construções históricas do Convento da Penha e do Santuário da Nossa Senhora da Saúde, por exemplo. Um autêntico mapa de afetos traduzido pelo desejo e exercício cotidiano do Olhar. A busca plástica de Dayse cria um acordo entre a mão humana, as teorias da arte e o meio de inserção social. Como se as telas de Geografia Afetiva criassem uma caixa de diálogo entre quem percorre os trajetos da cidade, revendo o percurso impresso sob forma de pintura e após esse momento, partilha e situa-se ali.
A (des)construção desse caminho sensível é capaz de fazer o Olhar do Outro relacionar as diferentes trocas possíveis em um território. Afinal, ocupamos as Cidades e somos a força motriz que as estimula. Por essas pinturas, secretamente estão emparelhadas a estética, a política, a economia reveladas numa geografia cultural do patrimônio de Vitória. Uma pintura que põe em contato direto a sociedade e o espaço que a sustenta.
Yves Klein
Série Antropometria, década de 1960.
Dimensões variáveis
- Fotografia: registro de performance.
- Impressão corporal sobre lona.
A filósofa e teórica da arte contemporânea Anne Cauquelin em sua publicação A invenção da paisagem anteviu o que Dayse propõe em sua série. Uma reflexão atual sobre convergências e diálogos entre homem x meio somado a noção elaborada acerca da paisagem. Geografia Afetiva pode ser um sintoma da conjectura que se forma quando surge o arrebatamento diante da potência e exuberância de um recorte natural capturado pela retina e a necessidade de apossar-se.
HENRI MATISSE
THE BLUE WINDOW
130 x 90 cm.
Museum of Modern Art, New York
1911
Criou-se urgência no enxergar, não é diferente pra você e não foi pra Dayse Resende. Questão a qual aloca a artista no lugar humano. Humano, porém com o poder aglutinador assegurado pela arte contemporânea de que é possível tratar mais uma vez de um assunto há tempos cuidado. Seja por qual linguagem for, em Geografia Afetiva advém a certeza de que a arte se fez na caminhada.
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